Tempo de Gestação e Tempo de Semeadura
Quem folheia a Sagrada Escritura, verifica muita insistência sobre o valor do tempo. Este tem seu dinamismo e é inexorável.
Com efeito, o fim de um ano dá origem a novo ano, sugerindo a muitos a ideia do eterno retorno. No entanto, para nós, cristãos, esta noção depreciativa de um tempo que se repete, monótono e destituído de significado, é inadequada.
O começo de mais um ano na nossa história deve ser um convite para uma nova etapa na caminhada de peregrinos que nos faz crescer na fé, ganhando em coerência, profundidade e coragem. O ponto de chegada da caminhada terrestre (nossa salvação) está cada vez mais próximo.
"É hora de despertar do sono, pois nossa salvação está mais próxima agora do que quando abraçamos a fé. A noite avançou e o dia se aproxima" (Rm 13,11).
Então, o novo tempo nos recorda que estamos em gestação, formando a nova criatura em nosso íntimo, configurada à imagem do Cristo Jesus (cf. Ef, 4,13).
O tempo de gestação é também o tempo de semeadura. O cristão semeia nesta vida em meio às lágrimas e colhe no além com exultação (2 Cor 9,6s). Se a caminhada do semeador é árdua, a recompensa será de profundo júbilo.
"Os que semeiam com lágrimas, ceifarão em meio a canções. Vão andando e chorando ao levar a semente; ao voltar, voltam cantando, trazendo seus feixes" (Sl, 126, 5s).
A caminhada, vivida na fé, é, sem dúvida, exigente. Ela pode passar por tribulações e crises. Ora, estes momentos difíceis são precisamente os mais valiosos porque nos obrigam a libertar-nos dos bens passageiros para procurar alento nos que não passam.
O tempo é o dom básico, sem o qual nada é feito. Cada instante desse tempo precioso repercute na eternidade do cristão, pois os nossos valores definitivos se elaboram dentro dos moldes do provisório. O ano que começa, é uma nova oportunidade que a Providência Divina nos concede para sacudir a rotina e tomar consciência do enorme valor que tem o tempo, visto que é no tempo que se constrói a eternidade.
Com estas reflexões, desejamos a todos os paroquianos um ano abençoado e fecundo em sementes de vida eterna.
Carlos Eduardo Fernandes